Por *Gustavo Rosal
-- Um sono sem mistérios marcou o princípio da noite. Flagro a rede que permanece imóvel em frente de meus olhos recém-abertos e tenho a impressão de que o tempo cansou. O vizinho aciona o portão no T -- o som do maquinário se perdendo ao fundo; o meu vizinho é mais interessante agora porque ainda está longe e não posso reconhecê-lo. Tomo um gole de água quente, há o relógio, meus pés, abro portas. Sei apenas que essas noites não são minhas. Enfim a conciliação com o sono mas as figuras de sua terra aproximam-se trazendo a perpetuidade da noite de uma maneira diferente. Pelos cantos elas vêm, por cima, altas, repletas de corrupção. Sentam-me em uma cadeira esguia com acolchoado de couro negro no quarto de sonho, pequeno funil de tijolos salientes. Sangro muito, vejo meus intestinos nas mãos de um louco, estendo o braço e o meu vizinho transformado em inseto devora-me dois dedos enquanto uma mulher que não conheço e que estava de cócoras ao longe se aproxima repentinamente e expõe mais carnes e ri-se de mim - mas estou lúcido. Nada disso me afetaria se em lugar de meus olhos não houvesse esses dois globos rubros obrigados a penetrar o mundo com uma desculpa nessa manhã de terça-feira.
10.03.20
*Contato: g.rosalbenvindo@gmail.com
*Obs: a imagem que eventualmente acompanhar esse texto é mera reprodução, sem pretensões autorais e sem fins econômicos.
*Gustavo Rosal é escritor, especialmente poeta, cronista e contista.
Participou das coletâneas "Versania" e "Contos entre
Gerações", ambas de repercussão na cidade de Parnaíba, para além de outras
publicações em jornais culturais, revistas, sites, blogs, redes sociais e
afins, a exemplo do jornal "O Piagüí", o blog da Academia Parnaibana
de Letras, o espaço "Escrever sem Fronteiras", de iniciativa do Sesc,
"Trema", "Gueto", "Vacatussa". É bacharelando em
Direito pela UESPI. Nascido em Teresina, no ano de 1996.
Edição: Mário Pires Santana
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários são de responsabilidade de seus autores, e não refletem, de maneira nenhuma, a opinião do redator deste portal.